terça-feira, 25 de novembro de 2014

Exames de Diagnóstico de HIV


O Ministério da Saúde estima que, dos 700 mil brasileiros que convivem com o HIV, 150 mil não saibam que são soropositivos. Embora a prevalência de pessoas convivendo com o vírus seja considerada baixa para o conjunto da população (0,4%), a infecção é alta entre meninas entre 14 e 19 anos e meninos gays. Considerando esse cenário, além do controle da própria doença o diagnóstico também é importante para que a pessoa não transmita o vírus.
O diagnóstico rápido do HIV é extremamente importante para o soropositivo. A identificação precoce do problema e a busca imediata pelo tratamento são atitudes que aumentam a qualidade de vida da pessoa e fazem com que ela tenha mais chances de viver normalmente.

Quando devo realizar o teste?

Entende-se por situação de risco comportamentos que colocam o indivíduo em ocasiões em que ele pode entrar em contato com o vírus - a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo ou sexo diferente, compartilhamento de seringas e reutilização de objetos cortantes. Após ter vivenciado uma situação de risco, a pessoa deve esperar alguns dias para realizar o teste. Entre o momento da contaminação e a possibilidade de detecção da infecção existe um período chamado de janela imunológica, por isso, deve-se esperar aproximadamente 30 dias para que o teste obtenha um resultado confiável.
 
Segundo o consenso para terapia anti-retroviral em adultos infectados pelo HIV (2008), no item métodos de diagnóstico da infecção pelo HIV, destaca: O período total para a detecção de anticorpos, isto é, a janela imunológica, é a soma do período de eclipse (sete dias) e do período de detecção de anticorpos anti-HIV da classe IgM (22 dias), ou seja, em média 29 dias, já que em torno de 90% das infecções são detectadas nesse período.
 
Se um teste de detecção de HIV é feito durante o período da janela imunológica, há possibilidade de um resultado falso-negativo, caso a pessoa esteja infectada pelo vírus. Portanto, se o teste for feito no período da janela imunológica e o resultado for negativo, é necessário realizar um novo teste, dentro de dois meses, como segurança.


No Brasil, pode-se fazer exames laboratoriais sorológicos ou testes rápidos caseiros. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza os testes gratuitamente na rede pública e em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). O diagnóstico acontece através da coleta de sangue e pode ser feito de forma anônima.
Os testes rápidos caseiros de HIV já foram abordados em um outro blog nesse período, para saber mais sobre eles, acesse: http://examinandoemcasa.blogspot.com.br/2014/11/teste-de-hiv-e-o-dono-do-exame.html
Como meu blog trata de exames imunológicos, irei limitar-me a falar sobre os exames laboratoriais sorológicos.

Exames laboratoriais sorológicos


O teste anti-HIV parece ser um bom marcador de infecção ativa ou latente. O imunoensaio enzimático (ELISA) é o teste de triagem diagnóstico padrão para o HIV, sendo o mais realizado para diagnosticar a doença. Nele, profissionais de laboratório buscam por anticorpos contra o HIV no sangue do paciente.
Quando é detectado algum anticorpo anti-HIV no sangue, é necessária a realização de outro teste adicional, o teste confirmatório. Nele, os profissionais do laboratório procuram fragmentos do HIV, vírus causador da Aids.
São usados como testes confirmatórios, o Western Blot, o Teste de Imunofluorescência indireta para o HIV-1 e o imunoblot.
 
Reação de ensaio imunoenzimático (ELISA): A presença dos anticorpos é revelada por meio do acoplamento de uma enzima ao anticorpo que formará o complexo ao se ligar ao antígeno. Essa técnica é utilizada como teste inicial para detecção de anticorpos contra o vírus devido à sua alta sensibilidade e por isso é considerado o principal teste utilizado no diagnóstico sorológico do HIV. Para saber mais sobre ele acesse: http://bioquimicaimunologica.blogspot.com.br/2014/11/tecnicas-imunoenzimaticas.html

Imunofluorescência indireta para o HIV-1: A presença dos anticorpos é revelada por meio de microscopia de fluorescência. A imunofluorescência foi muito utilizada como teste confirmatório da infecção pelo HIV na primeira década da epidemia, mas, atualmente, foi substituída pelo western blot e imunoblot. Para saber mais sobre ele acesse: http://bioquimicaimunologica.blogspot.com.br/2014/10/tecnicas-de-imunoflorescencia-e-com.html

Imunoblot: neste teste, proteínas recombinantes e/ou peptídeos sintéticos, representativos de regiões antigênicas do HIV-1 e do HIV-2 são imobilizados sobre uma tira de nylon. Além das frações virais, as tiras contêm regiões de bandas controle (não virais) que são empregadas para estabelecer, por meio de comparação, um limiar de reatividade para cada banda viral presente. O imunoblot rápido é semelhante ao imunoblot, porém utiliza a plataforma de migração dupla, permitindo a detecção de anticorpos em menos de 30 minutos.

Western blot: este teste envolve, inicialmente, a separação das proteínas virais por eletroforese em gel de poliacrilamida, seguida da transferência eletroforética dos antígenos para uma membrana de nitrocelulose. O soro do paciente, onde se faz a pesquisa dos anticorpos contra o HIV, é colocado em contato com esta membrana. As reações antígeno-anticorpo são detectadas por meio da reação com anti-imunoglobulina humana, conjugada com uma enzima. Após uma reação de oxi-redução e de precipitação, as proteínas virais são visualizadas sobre a fita de nitrocelulose. Esse teste tem alta especificidade e sensibilidade.
Western-Blot


Testes moleculares
Anticorpos maternos passam via placenta para o bebê, principalmente no terceiro trimestre de gestação, e podem persistir até os 18 meses de idade, interferindo no diagnóstico sorológico da infecção vertical. Portanto, os métodos que realizam a detecção de anticorpos não são recomendados para o diagnóstico de crianças menores de 18 meses, sendo necessária a realização de testes moleculares, como a quantificação do RNA viral (carga viral).
A detecção molecular de ácido nucleico se baseia na detecção e/ou quantificação do material genético do HIV (RNA do HIV no sangue ou DNA pró-viral em células infectadas) por meio da amplificação do ácido nucléico com o uso da reação em cadeia da polimerase (PCR) e detecção em tempo real de fluorescência emitida por uma sonda específica para uma assinatura genética do vírus.

Fontes:

http://www.plugbr.net/exame-de-hiv-recomendacoes-para-realizacao-em-caso-de-exposicao-a-situacao-de-risco/
http://www.boasaude.com.br/artigos-de-saude/2591/-1/existe-mais-de-um-exame-para-detectar-o-hiv.html
http://www.aids.gov.br/pagina/testagem-para-hiv

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Testes Imunológicos de Fertilização




Sabe-se hoje que o sistema imune tem papel fundamental na fisiologia da reprodução e gestação. Para entender como o sistema imunológico influencia o processo reprodutivo, é importante esclarecer como funciona nosso sistema imune. Esse sistema é responsável pela defesa do nosso organismo contra agentes externos, como microorganismos ( bactérias, vírus,etc) e outros agentes agressores (material  estranho ao organismo). Há 2 subtipos de resposta do sistema imune: o Th1 (ou celular), onde as próprias células do sistema imune atacam o invasor, e o Th2 (ou humoral), onde anticorpos específicos bloqueiam a ação das substâncias “não-próprias” ao organismo.

Mas se o sistema imune ataca tudo o que é considerado como “não-próprio”, porque um embrião ao se implantar no útero não é expulso pelo sistema imune, já que 50% do material genético dele é proveniente do material genético paterno ( espermatozoide)?

A teoria mais aceita atualmente é de que o reconhecimento no organismo materno do material genético paterno ocasiona a produção de anticorpos protetores que protegeriam o embrião do sistema imune. Acredita-se que  para uma gestação seja bem sucedida,  deve haver incompatibilidade genética paterna e materna para que haja a produção desses anticorpos protetores. Se o material genético de ambos forem parecidos, não há a formação desse anticorpo protetor e o sistema imune atacaria o embrião. A avaliação da presença desses anticorpos contra os linfócitos paternos no sangue da mulher é realizado através de um exame chamado Cross-Match. Caso o exame seja positivo, indica formação desses anticorpos que protegeriam o embrião no caso de gestação. No caso de exame negativo, o tratamento pode ser realizado através  da administração de linfócitos paternos no organismo da mulher para o sistema imunológico produzir tais anticorpos.

Porém, até o momento os estudos dos casos de falhas de implantação e abortos de repetição com a vacina de linfócitos paternos (denonimada ILP) não mostraram evidências científicas de que esse tipo de tratamento seja eficaz. Os estudos são controversos , raros e não podemos ignorar  os potenciais riscos desse tratamento no sistema imune da mulher no futuro. Por outro lado, há casos de sucesso isolados nesse tipo de tratamento.

Além da resposta aloimune ( resposta do sistema imune contra antígenos externos), há também casos em que o sistema imune ataca as próprias células do organismo, ocasionando as doenças auto-imunes ( como lúpus, esclodermia, artrite reumatóide, entre outras). Sabe-se que mulheres com doenças auto-imunes apresentam maior taxa de abortos e complicações durante a gestação.




IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO
Alguns exames podem ser solicitados para o diagnóstico de algum fator imunológico que esteja interferindo negativamente no processo de implantação embrionária ou no decorrer da gestação. Esses são exames específicos e solicitados em casos selecionados, principalmente nos casais que apresentam falhas  de implantação com embriões de boa qualidade, abortos de repetição ou histórico familiar. Os principais exames que podem ser realizados são:

Fator anti-núcleo (FAN)
É um conjunto de auto-anticorpos contra o núcleo das células. O FAN é positivo em diversas doenças autoimunes, porém cerca de 10% a 15% da população podem ter FAN positivo e não apresentar qualquer alteração. Portanto, o FAN deve ser criteriosamente avaliado e deve ser valorizado principalmente nos casos de falhas repetidas de implantação embrionária, abortos de repetição ou nos casos de infertilidade sem causa aparente. Nos tratamentos de reprodução assistida, o tratamento utilizado para os casos de FAN positivo é a administração de corticóide com o objetivo de diminuir a ação deletéria do sistema imune.

Anticorpos anti-tireóide
Auto-anticorpos atacam as células da glândula tireoide e podem promover alterações na produção de hormônios, que podem acabar afetando outras partes do corpo. A presença desses auto-anticorpos, embora não esteja relacionada diretamente a gestação, pode ser um sinal da presença de alguma disfunção do reconhecimento do sistema imune, o que pode comprometer a fertilidade de algumas formas.

Células Natural Killer (NK)
Estudos demonstram que mulheres com aumento do número de células NK – a sigla “NK” vem do inglês “natural killer” – apresentam maior dificuldade para engravidar e abortos de repetição. Isso se deve porque tais células do sistema imune são capazes de reconhecer células estranhas ao organismo e células infectadas por vírus, atuando prontamente para destruir essas células. As células NK estão presentes no endométrio e para aceitação ou rejeição do embrião é necessário um perfeito equilíbrio da função dessas células. O tratamento nesses casos consiste da administração de imunoglobulinas que tem como objetivo regular a ação das células NK, evitando a expulsão do embrião. As imunoglobulinas são preparadas a partir de um grupo de anticorpos purificados recrutados de origem humana, substituindo os anticorpos “agressores” maternos por anticorpos normais. Assim, o organismo materno se torna mais receptivo ao embrião. Estudos recentes demonstraram que o próprio embrião produz uma molécula denominada HLA-G responsável pela inativação das células NK.


Citocinas
As citocinas são mediadores químicos das células que regulam o sistema imune. São liberadas por diversas células e existem dezenas de tipos de citocinas e muitas delas têm funções específicas, recrutando os vários tipos de células do sistema imune, enquanto a mesma função é exercida por vários tipos de citocinas. Dependendo do tipo de citocinas produzidas, há um predomínio de um tipo de resposta do sistema imune. Acredita-se que para uma gestação bem sucedida, as citocinas que estimulam a resposta humoral (Th2) devem prevalecer sobre as que estimulam a resposta celular (Th1). Alguns estudos mostram que um desbalanço na produção dessas citocinas está relacionado a falhas repetidas de implantação do embrião. O tratamento para alterações da produção das citocinas também é realizado com a administração de imunoglobulinas, mas o resultado desse tipo de tratamento ainda necessita de mais estudos comprovando sua eficácia.

Anti-fosfolípides
Os anticorpos anti-fosfolípides são auto-anticorpos que atacam os componentes normais das membranas das nossas células (chamadas de fosfolípides). Esses auto-anticorpos podem levar à lesão do endotélio (parede interna dos casos sanguíneos) e promover pequenos trombos e oclusão de capilares presentes no endométrio. Estão relacionados a abortos de repetição por alterar a circulação placentária, mas estudos recentes tentam demonstrar a presença dos anticorpos anti-fosfolípides em falhas de implantação e infertilidade. Os anticorpos mais comuns envolvidos no processo são: anti-cardiolipina, anti-fosfatidilserina, anti- fosfatidil-etanolamina e o anti-coagulante lúpico. Embora faça parte do grupo de doenças auto-imunes, o tratamento visa evitar a formação dos pequenos coágulos, sendo utilizados anticoagulantes como a heparina de baixo peso molecular (enoxaparina) e inibidores da agregação plaquetária , como o ácido acetilsalílico em baixas doses.

Fonte:
http://www.materprime.com.br/infertilidade/testes-imunologicos/